Tuesday, July 04, 2006

Reflexões Artísticas

O comentário do Skinstorm ao meu post Depressões... ou não leva-me a uma questão que andava a querer abordar. Para apreciar um texto temos de sentir uma ligação à história ou às sensações que ele retrata? Digo desde já que penso que não. Mas, como disse o Estripador, vamos por partes.

Relativamente ao caso concreto "The Smiths" eu tendo a acreditar que o Morrissey descreve essencialmente as vivências dele. Será que é uma pessoa triste? Não me parece, antes pelo contrário. Mas não deixa por isso de ter vivido - e ainda experimentar - as suas inquietações. E se realmente é verdade que ele conta essencialmente esse tipo de histórias, também o é que reflecte sobre imensas outras coisas, inclusivamente com textos extremamente satíricos como "The Queen Is Dead", "Vicar In A Tutu" ou "Sweet And Tender Hooligan".

O facto de não retratar experiências felizes é algo que não me incomoda minimamente. Será que esta música me deprime? A mim não, porque haveria de deprimir? Acho apenas que relata de uma forma brilhante coisas da vida que todos vivemos ou... não.

Esta última constatação leva-me a algo que está aparentado com a minha visualização do filme "O Segredo de Brokeback Mountain". Terei tendências gay porque vi o filme? Absolutamente NÃO! Não tenho. Da mesma forma que não terei por gostar da letra de um "Hand In Glove" (Smiths). Ou não serei concerteza um transsexual por me deliciar com as letras do Antony And The Johnsons (disco "I'm A Bird Now").

Bottom line is, podemos apreciar a descrição de vivências que só podemos imaginar, não temos de nos limitar a reviver algo que já experimentámos. Podemos ir muito mais além. (Também) É para isso que serve a arte!

Referências:

"And so I checked all the registered historical facts
And I was shocked into shame to discover
How I'm the 18th pale descendent
Of some old queen or other
...
And so I broke into the Palace
With a sponge and a rusty spanner
She said: "Eh, I know you and you cannot sing!"
I said: "That's nothing, you should hear me play piano!"
The Queen Is Dead, The Smiths



"Hand in glove
The sun shines out of our behinds
No, it's not like any other love
This one is different - because it's us
Hand in glove
We can go wherever we please
And everything depends upon
How near you stand to me"
Hand In Glove, The Smiths



"Losing, it comes in a cold wave
Of guilt and shame all over me
Child has arrived in the darkness
The hollow triumph of a tree.

Forgive me, Let live me
Kiss my falling knee
Forgive me, Let live me
Bless my destiny.

Forgive me, Let live me
Set my spirit free,
Weakness sown, Overgrown
Man is the baby."
Man Is The Baby, Antony And The Johnsons



"One day I'll grow up
Be a beautiful woman
One day I'll grow up
Be a beautiful girl

For today, I am a child
For today I am a boy"
For Today I Am A Boy, Antony And The Johnsons



"I am a bird girl now
I've got my heart
Here in my hands now
I've been searching
For my wings some time
I'm gonna be born
Into soon the sky
'Cause I'm a bird girl
And the bird girls go to heaven
I'm a bird girl
And the bird girls can fly"
Bird Guhl, Antony And The Johnsons


2 Comments:

At 4:08 PM, Blogger Maríita said...

Vamos lá por partes (é a minha vez de dizer isto):

1) Desde que Pearl Jam é Heavymetal que não voltei a ser a mesma;

2) Existem muitas pessoas que ao escreverem não estão necessariamente a escrever sobre si ou sobre o que sentem, são pessoas que pela sua experiência conseguem por-se na pele de outra personagem e vivê-la na integra. Isso não faz com que sejam suicidas, homossexuais, travestis ou transexuais para dar uns exemplos conhecidos. São o que são, têm é uma especial apetência para contar histórias.

Existem na cultura popular anglo-saxónica milhares de exemplos de excelentes contadores de histórias que sem nunca terem saído do seu canto, podiam contar mil e uma aventuras em territórios longinquos, povoados de seres mágicos. Exemplo prático, não creio que a J.K. Rowling ande em casa montada numa vassoura e tenha uma varinha mágica para as arrumações, no entanto, escreve como se tivesse vivido as coisas. Penso que um bom escritor é aquele que nos consegue transportar para um mundo que nós achamos que existe efectivamente.

Não vou escrever mais nada antes de rebentar com a escala dos comentários...
Beijocas

 
At 1:01 PM, Blogger Maríita said...

Para sublinhar o que escrevi ontem, aconselho uma visita a este blog que é muito bom:

http://eusoulouco.blogspot.com/

Beijinhos

 

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