Brokeback Mountain
Vou acabar com o suspense sobre o assunto "Brokeback Mountain". Digo desde já que a minha expectativa para ver o filme era baixa, essencialmente porque a definição "western gay" não me atraía minimamente. Não tem a ver com o gay, que não tenho desses preconceitos - voltarei a este assunto futuramente -, muito menos com o western, mas tem essencialmente a ver com o facto de a mera perspectiva de que alguém tenha proposto "e se fizéssemos um western com gays?" não ser motivo suficiente para levar a ver um filme. De qualquer forma, arrastado por duas amigas, lá fui ver o filme...
Fui surpreendido! "Brokeback Mountain" foi um claro exemplo de como a aplicação de um rótulo - a forma preferida da imprensa mais generalista tem para tratar dos assuntos - é extremamente redutor e pode desvirtuar a realidade. O filme não é um western gay, mas sim uma história de amor que tanto podia ter-se passado entre dois cowboys (ou vaqueiros, se preferirem) como entre dois, bailarinos, futebolistas, mecânicos ou de outra profissão qualquer.
Mas vocês perguntam: "gostaste ou não do filme?" Digo já que gostei, mesmo sabendo que vai haver pessoal a torcer o nariz à minha condição de "gajo que é gajo" (pois eu digo que quem está seguro de si não tem esses problemas - lá está, mais uma vez, do que falarei num post futuro).
Há algum tempo, uma amiga minha colocou-me a questão se eu era capaz de me apaixonar por uma pessoa do mesmo sexo. Que isso seria a forma de amor supremo, uma paixão puramente espiritual, que contrariasse a própria tendência da atracção física. A questão pareceu-me estranha e desprovida de qualquer sentido e, porque para mim inconcebível (e confesso que ainda é), algo sobre o qual nunca tinha reflectido. Não assimilei bem a questão - cheguei a pensar que ela me queria confessar que era homossexual LOL - e só vi claramente onde ela queria chegar quando vi o filme.
O que achei mais interessante no filme é precisamente o facto de história se desenrolar entre um homem heterossexual convicto (a personagem do Heath Ledger) e outro eminentemente heterossexual (a personagem do Jake Gyllenhaal). Isto é traduzido pelas outras relações extraconjugais de cada uma das personagens. Ou seja, se um está a ceder meramente às convenções sociais, o outro está a ir contra o seu próprio ser.
Foi assim que eu vi o filme. Não achei que tivesse fosse o que fosse de western a não ser os cowboys e o cenário, para mim terá sido apenas A história do amor supremo e sublime. Apenas vi isso e alguma abordagem ligeira - e ainda bem que assim foi, uma vez que não era esse o objectivo do filme - aos preconceitos sociais.
5 Comments:
Então, e o que é um homem "eminentemente heterossexual"? É alguém que só tem relações com mulheres, excepto ocasionalmente, quando sente vontade de variar a "dieta"? :)
Repara que não estou a pôr em causa o conceito - deve haver por esse mundo fora imensos bissexuais que fazem o mesmo. Mas será que faz sentido entrar em análises do tipo "Bem, este indivíduo é 75% heterossexual; já teve 3 relações com mulheres, portanto está na altura de ter uma com um homem"?
Chamem-me o que quiserem, mas ou se é heterossexual, ou se é homossexual, ou se é bi. Esta de ser "eminentemente heterossexual" ou "Quase heterossexual, mas só com uma pontinha de homossexual" parece-me demasiado estranho.
Não vi o filme, confesso. Queria ir ver mas nunca calhou. No entanto, a Amor, sublime ou não, não escolhe idades, sexo ou crença, é assim. Li em tempo um livro sobre dois homossexuais que me marcou profundamente, é da Marion Zimmer Bradley (para variar não me lembro do título), e fala do amor entre os dois, um amor de tal forma poderoso que para sua própria protecção leva a que os dois se afastem para poderem sobreviver na sociedade que os rodeia.
Enfim, uma temática que mexe com muitas consciências e com os medos inconscientes de muita gente.
Schmy pra presidente!
Boa visão da coisa.
não peceber como ainda tás tu por assentar.........
Llyrnion, claro que haverão sempre pessoas homossexuais ou bissexuais que nunca romperam a barreira do preconceito e assumiram relações que estivessem de acordo com os seus desejos. E a orientação sexual é como a honestidade: ou se é ou se não é. Aí concordo absolutamente contigo.
Agora, no contexto em que o filme é apresentado, não creio que a personagem do Heath Ledger tenha passado a ser homo e sequer bissexual apenas porque teve uma experiência. Acho que ele continua heterossexual, o que me parece um ponto de vista interessante. Repara que quando está livre de compromissos ele procura exclusivamente mulheres e nunca homens, ou seja as suas hormonas só saltam com mulheres.
Tudo isto abre outra questão: será que o facto de uma pessoa ter tido uma experiência com uma pessoa do mesmo sexo a torna homossexual? Pessoalmente acho que não. Não subscrevo que um tipo só porque se aproximou uma vez de um homem mais do que seria suposto - vamos lá a ver, qual será a distância mínima aceitável? Ou terá de haver mesmo contacto? Podemos fazer uma sondagem! :-)) - passe automaticamente a ser homo ou bissexual. Da mesma forma que, pelo que já disse, alguém que nunca se envolvou com uma pessoa do mesmo sexo o possa ser.
Li uma vez um artigo qualquer em que diziam que segundo os psicólogos todos tivemos pelo menos uma experiência homossexual na vida. Fiquei assustado quando li isso porque implica que ou estou muito esquecido ou então sou anormal. :-))
No entanto, repara que a primeira reacção da personagem do Heath Ledger é repudiar o avanço do outro. E faz isso com um ar de repugnância, não de quem tem medo de ser visto e ter de acarretar com as consequências sociais.
De qualquer forma admito que haja outras leituras do filme. Esta é apenas a minha, a forma como eu o vi. E isso é que torna estas discussões interessantes, caso contrário estava a falar do que todos sabíamos e não escrevia nada sobre o filme (a não ser que quisesse que vocês me achassem um chato, o que não significa que esteja livre de vocês achem que eu o seja, antes pelo contrário). :-))
Já agora, e porque prezo imenso a tua opinião, o que é que extraiste do filme?
ps: Este comentário é mais extenso que a maioria dos posts. :-)) Vou tentar conter-me mais. ;-)
Bem... Quero dizer... Enfim, não é...?
Será que esta é a altura indicada para dizer que não vi o filme...?
Ou preferes que volte mais tarde...?
:)
Neste caso, sentei-me muito confortavelmente junto da maioria, a contar uma piadas sobre os Western Gays, e afins. Ah, e ainda fiz um mail sobre os filmes que já estavam em preparação, e foram cancelados quando a Brokeback Mountain pariu um rato, nos Óscares.
Qq dia, vira post no blog.
Sorry, comparado com o teu post, o meu é assim uma espécie de orgasmo, mas ao contrário. Ou "anti-climático", como dizia o poeta... que devia ter algo contra o clima :)
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